E vamos por partes.
Bom, a minha sorte não me caiu do céu qual milagre ou benção. A minha sorte veio com anos de desgostos, muita angústia, muita tristeza. Depois veio com esperança. Com muitas consultas, exames, e alguns euros à mistura. E só depois a benção do céu. E a minha maior alegria. 2 meninas.
Uma sugestão do médico. E um toque de Deus.
Não consigo imaginar a minha vida de outra forma e estás miudas trazem mesmo uma alegria inesgotável e uma força imensa à minha vida.
Posto isto, esta merda também me sai do pelo.
E sim, tenho necessidade de o dizer assim. Principalmente para eu o ler. Muitas vezes.
Até porque tenho a abençoada mania de dizer que o primeiro ano é que foi difícil. Uiii... Isso é que foi mesmo mau. Que não recomendo a ninguém ter gémeos. Que é muito duro... Mas que agora até se faz bem. Que são boas miúdas. Que agora já entendem o que lhes digo... Que é melhor gémeos que filhos pequenos de idades diferentes.... Etc etc etc.
Tudo muitooooo bonito e cor de rosa.
Só que não.
Principalmente porque sou mãe sozinha, e em part time. Na verdade divorciada e com guarda partilhada. Mas, (quase) sempre que estou com elas, é sozinha.
E não nego que é um caminho que se faz, e que se aprende a fazer. Mas é duro. E é constante. São duas numa rotina que se exige sempre a mesma, e na qual sei que inevitavelmente estou a falhar.
Porque não há santa paciência (nem energia!) todos os dias para fazer tudo como deve ser.
Porque é sempre tudo duas vezes, e tem que ser sempre tudo com o mesmo amor, dedicação e paciência, e elas assim o exigem.
Porque é difícil lidar com as birras de uma e ter a outra a aproveitar-se do momento.
E ter que mudar tudo, porque eu quero igual à mana. E ter que segurar uma enquanto pomos a outra na cadeira do carro. E porque são duas doentes a vomitar ao mesmo tempo. E porque são histórias e brincadeiras sem fim, sem poder dizer "Deixa lá que ele é mais novo"...
Não há cá tolerâncias. São 2 pessoas totalmente diferentes, a precisar de apoios e orientações diferentes, mas exatamente na mesma fase de vida.
E com elas a perceber que são as duas, sempre, para tudo.
Que são "gémeas" mesmo que ainda não entendam o que isso é. E, às vezes, nem eu entendo bem...
É querer cultivar as diferenças e a individualidade, mas desejar ardentemente que sejam o melhor apoio na vida uma da outra. Que tenham o melhor elo de ligação desta vida, enquanto não se matam por um casaco cor de rosa.
Por isso...
Ser mãe de gémeos é mesmo do caraças. Palmadinhas nas costas.
É fazer uns momentos o melhor para uma, e o possível para a outra. E noutros momentos fazer o contrário e desejar que elas compreendam estas decisões.
Não há descanso... Não há sossego nem tranquilidade.
Há dedicação e muito amor. E também roupa. Muita roupa.
(Fico com a sensação de não ter desabafado tudo o que queria. E com a certeza de que desafios ainda mais complicados surgirão... Assim continue a haver bom senso. Amén.)